Pessoalmente, possuo uma TR4 automática e não trocaria por nada. Mas reconheço que há casos de uso onde o câmbio manual vai melhor. Se você quer extrair a última gota de performance do carro (ainda que a proposta de um jipe não seja exatamente esta), vá de câmbio manual.
As desvantagens genéricas do câmbio automático são, a meu ver, as seguintes:
- Num câmbio de apenas 4 marchas (como é a maioria deles, TR4 inclusive), a distância entre primeira e segunda marchas é muito grande, o que prejudica a performance. Sensação de "lerdeza" do carro.
- O consumo de combustível é maior (uns 10%), dadas as perdas no conversor de torque, mais uso do freio e uso de RPM mais alta quando o motor é exigido (pois a caixa reduz quando se pisa a fundo).
- Não é feito para "dar pau"; quebrará ou sofrerá desgaste prematuro se for usado para tirar racha, cantar pneu, essas coisas.
- A manutenção é muito mais cara, embora só vá incomodar se o motorista "der pau".
- O motorista precisa ficar atento às situações de superaquecimento do óleo da caixa.
- Ruído do motor (RPM) não corresponde exatamente à velocidade, o que pode incomodar motoristas acostumados a dirigir "de ouvido".
Agora, as vantagens genéricas do câmbio automático:
- Conforto ao dirigir;
- Conforto e facilidade ao manobrar;
- Libera a mão para acariciar as pernas da passageira :)
- Abundante força para sair do lugar (morro acima, manobrando etc.), graças ao conversor de torque. Evita ter de acelerar e arrastar embreagem, sai quase na lenta;
- Não há uma embreagem para queimar.
Em relação ao câmbio automático oferecido na TR4 (modelo Aisin V4AW4), as desvantagens específicas são as seguintes:
- A TR4 é um carro pesado e com motor "pequeno", a performance já não é estelar, e fica pior ainda com câmbio automático. O motorista que gosta de correr definitivamente não vai ficar satisfeito.
- Câmbio é mais "burrinho" que os oferecidos em sedãs como Toyota Corolla. Por exemplo, o Corolla reduz a marcha se o motorista freia. O da TR4 só presta atenção ao acelerador.
- Não oferece diferentes modalidades (e.g. esporte, econômico, neve), coisa relativamente comum em outros câmbios de quatro marchas.
E as vantagens específicas:
- TR4 automática tem maior valor de revenda;
- Tanto o fabricante (Aisin) quanto o modelo (AW4) têm fama de grande confiabilidade;
- A caixa do câmbio automático é selada e tem menos chances de contaminação ao passar na água ou lama. (Num câmbio manual, e "proibido" trocar de marcha nestas situações pelo risco de contaminar a embreagem.)
- O óleo da caixa é refrigerado ativamente via radiador do motor, então a chance do óleo superaquecer é pequena, mesmo em uso severo.
- Na maioria das situações de off-road, a suavidade da transmissão automática é vantajosa, evita patinar "de graça", perder tração entre troca de marchas etc.
Bem, as cartas estão na mesa. Agora a decisão é sua.
Ei! Superaquecimento do óleo da caixa? Que droga é essa?
Na maioria dos câmbios automáticos, TR4 inclusive, a força do motor é transmitida hidraulicamente, ou seja, por movimento de óleo. Não há conexão direta entre motor e transmissão (quer dizer, às vezes há; veja o próximo tópico), o que elimina a necessidade da embreagem e dá "aquela" suavidade ao carro automático.
O componente que faz este trabalho é o conversor de torque. Há inúmeros artigos na Internet que explicam bem como ele funciona, então não vem ao caso repetir aqui.
O ponto é: toda transmissão de energia por meio hidráulico tem perdas. Se o motor produz 100HP, apenas 95HP são transmitidos; 5HP são perdidos.
E onde esses 5HP vão parar? No próprio óleo, em forma de calor. Note que 5HP equivalem a 3680W, é como se o óleo estivesse sendo continuamente aquecido por um chuveiro na posição "outono".
Assim, todo caixa automática decente tem meios de resfriar este óleo. No caso da TR4, ele passa por dentro do radiador do motor. A temperatura ideal do óleo é a mesma da água do motor (uns 90 graus).
Infelizmente, não é difícil ultrapassar a capacidade de resfriamento. Basta acelerar fundo e frear forte ao mesmo tempo, mantendo o carro parado. O motor vai atingir uns 2500 RPM, produzindo 40HP ou mais, que estão integralmente virando calor porque o automóvel não pode andar.
Bem, isto seria a forma propositada de superaquecer o óleo. E isso pode acontecer "sem querer"? Sim, basta uma situação em que seja preciso acelerar muito e o carro ande pouco. Off-road pesado, rebocando trailer, são situações "perigosas". Transmissões com refrigeração insuficiente podem superaquecer até subindo uma serra.
São situações onde um carro com câmbio manual queimaria a embreagem. A diferença é que trocar a embreagem sai muito mais barato que dar manutenção em câmbio automático. Uma simples troca do óleo sairá caro (custa 100 reais o litro, cabem 7 litros, e provavelmente será feita uma "lavagem" com óleo novo para não precisar abrir a caixa, substituindo-se novamente em seguida).
Na TR4, segundo o manual, o painel mostra um "N" piscando quando isto acontece. Não aconteceu comigo ainda, mas se acontecer, é bom parar, mantendo o motor ligado e o câmbio em N, para o óleo circular e esfriar. É um aviso antecipado que, se atendido, evitará danos ao óleo e à caixa.
Embreagem de travamento (lockup clutch)
Na última década, todo conversor de torque tem saído com uma embreagem de travamento. Embora seu funcionamento seja bem diferente de uma embreagem convencional, seu efeito prático é o mesmo: acoplar diretamente o motor à transmissão.
Quando isto acontece, o óleo deixa de transmitir a força, porque todas as peças do conversor de torque, inclusive o próprio óleo, estão girando à mesma velocidade.
Nesta condição, a eficiência do conversor de torque é 100% e o óleo não esquenta, o que diminui o consumo de combustível.
Para manter a suavidade da transmissão automática, a embreagem só trava em determinadas condições, e o motorista desavisado nem vai notar:
- Marchas mais longas (terceira, quarta) que têm menos força;
- Pisando pouco no acelerador;
- Não estar pisando no freio;
- Desenvolvendo velocidade razoável.
Na prática, estas condições são observadas quando estamos dirigindo em rodovia. No frigir dos ovos, a embreagem de travamento é um meio de diminuir o consumo em auto-estrada.
Esta embreagem é automática. Seu estado "normal" é desacoplado, e ela sempre desacopla antes de trocar de marcha. Assim, quando se pisa a fundo na estrada, o carro dá dois pequenos trancos, como se tivesse mudado de marcha duas vezes, mas na verdade a primeira "troca" foi a embreagem desacoplando.
O conversor de torque tem um efeito multiplicador de torque (por isso o nome), então quando o motorista pisa um pouco mais, a embreagem "larga" para deixar o conversor trabalhar, mesmo que não haja redução de marcha. Isto cria a sensação de haver uma marcha "três e meia", levando alguns motoristas a pensar que seu câmbio tem 5 marchas.