sexta-feira, 20 de maio de 2011

Diferencial de deslizamento limitado: um pouco de teoria

O manual da Pajero TR4 diz que ela possui um diferencial de deslizamento limitado (LSD) no eixo traseiro. A "porcentagem" deste diferencial e mesmo sua existência é motivo de debate contínuo entre os donos de TR4. Tanto o manual em português quanto os manuais técnicos deixam claro que é um opcional. Falta alguém abrir o diferencial e dizer se há mesmo este recurso lá dentro.

UPDATE: infelizmente a TR4 não possui este recurso nem como opcional.

Mas este post não é sobre isto, mas sim sobre como a "quantidade" de deslizamento limitado é expresso, e o que o número significa. Há duas unidades de medida costumeiras:
  • porcentagem (por exemplo, 50%);
  • proporção (por exemplo, 3:1).
Ambas costumam ser mal interpretadas, então pretendo explicar exatamente o que significa cada uma. A fonte da informação é basicamnte o livro Four Wheeler's Bible, 2nd edition.

A proporção significa a diferença entre os torques transmitidos a cada semi-eixo. Um LSD 3:1 significa que ele admite que uma roda receba, no máximo, três vezes mais torque que a outra.

Se a roda esquerda estiver patinando, mas ainda houver um pouquinho de aderência, ela está recebendo algum torque, e a roda direita receberá três vezes mais (assumindo que não esteja patinando também...).

Se uma roda estiver erguida do chão, ou estiver patinando num piso realmente liso, ela está absorvendo torque praticamente zero. A outra roda recebe três vezes zero de torque, ou seja, nada, e aquele eixo está "morto" em termos de tração.

É por isso que LSD não serve para certos tipos de off-road, como andar sobre pedras, onde uma ou duas rodas ficam soltas no ar ("ficar em X"). O LSD não sabe lidar com situações de "torque zero" num lado.

Também é por isso que funciona o truque de puxar um pouco o freio de mão. Criando um torque "artificial" na roda que está patinando, consegue-se um torque três vezes maior (se o LSD for 3:1) na roda oposta. Isto pode ser suficiente para tirar o veículo da enrascada.

Um diferencial convencional, aberto, possui proporção de 1:1. O mesmo torque é aplicado nos dois lados. Já o diferencial bloqueado possui proporção infinita, pois o torque de um lado não afeta o do outro, mesmo que seja zero.

Expressar o LSD em porcentagem significa quantos % do torque total podem ir para um único eixo. É uma unidade menos intuitiva, porém fica restrita à faixa 0% a 100%, evitando o valor "infinito" no caso do diferencial bloqueado.

Um diferencial aberto, comum, é 0%. Todo torque de entrada tem de necessariamente sair pelos dois semi-eixos. O diferencial bloqueado é 100%; se uma roda estiver solta no ar, todo o torque vai todo para a que está no chão.

Uma porcentagem intermediária, como 50%, é mais difícil de entender. Me bati um pouco para "pegar" a ideia. Um LSD 50% significa que:
  • 50% do torque tem de ir para ambos os eixos (25% para cada semi-eixo, igualitariamente);
  • 50% do torque pode ir para apenas um eixo.
Fazendo as contas: um eixo pode receber até 75% do torque (25% da divisão igualitária mais 50% de torque exclusivo). A proporção 75%:25% equivale a 3:1. Logo, dizer que um diferencial é 3:1 ou 50% é exatamente a mesma coisa.

Num diferencial LSD 60%, restam 40% a serem divididos igualitariamente; 20% para cada semi-eixo. A proporção é 80%:20% ou 4:1. Não é difícil calcular e/ou inferir uma fórmula para converter de uma unidade para outra.

Acoplamento viscoso

Toda a explanação acima só vale para um tipo de diferencial LSD: aquele sensível ao torque. Literalmente, a diferença de torque entre os eixos "torce" algum componente interno, forçando um acoplamento, seja por embreagens ou por engrenagens.

Mais importante: este tipo de LSD controla apenas o torque. A rotação dos dois lados pode ser bem diferente, o diferencial não se importa.

Mas também existe o LSD sensível à rotação. Ele atua quando uma grande diferença na RPM dos semi-eixos é detectada.

A implementação mecânica mais comum deste tipo de LSD (se não a única) é o VCU: unidade de acoplamento viscoso. É o que a Pajero TR4 utiliza no diferencial central, no modo 4H.

Este tipo de LSD é, a princípio, "mais inteligente" que o LSD de torque, porque ele garante tração mesmo que uma das rodas (ou dos eixos) esteja solto no ar, com torque zero. Quanto maior a diferença de rotação, mais forte ele acopla, como se fosse um LSD de proporção variável.

Devido às vantagens e simplicidade, o VCU era o "santo Graal" dos veículos de tração integral, há uns dez ou quinze anos atrás. (A TR4 foi projetada naquela época.) Hoje em dia, a tendência é usar controle de tração eletrônico, que é realmente inteligente e pode ser mais barato, já que faz uso dos mesmos circuitos e controles do freio ABS, que qualquer automóvel razoável já possui.

Isso no on-road, onde o VCU atua de forma intermitente. No off-road, o VCU nunca foi primeira opção pois estraga logo se for muito exigido. Não explode; simplesmente deixa de cumprir sua função, e não pode ser consertado, é uma unidade selada.

No caso da TR4, o VCU só é exigido no modo 4H, permanecendo idle nos outros três (2H, 4HLc e 4LLc), o que diminui nossa preocupação com sua vida útil :)

14 comentários:

  1. Olá! Parabéns pelo blog. Gostaria de saber se há alguma adaptação de motor a diesel para pajero TR4?
    O Ano da minha é 2005.

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  2. *Nunca* ouvi falar de tal adaptação.

    Obrigado pela visita!

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  3. Olá Boni, parabéns pelo BLOG, é de longe umas 200x mais informativo que o site Mitsubishi e 4Rodas juntas onde só se lêem abobrinhas. Estou há meses delirando entre um Troller e uma Captiva 4x4 (usados) pasando evidentemete por tudo que há entre esses os dois dois extremos (Forester, Vitara, TR4, Tracker...) e após muita consideração acabo de decidir pelo TR4 cuja única reprimenda fica mesmo pelo preço excessivo em função da reduzida e espartana lista acessórios e opcionais do carro o que me leva a perguntar...Quando é que a MIT vai incorporar o maldito controle de tração no TR4 ? O ABS já está lá é só colocar a central de controle...deve custar uns US$50 na China...

    Mas com relação ao LSD, você conseguiu descobrir se ele é mesmo só no central ou se tem no traseiro também ? Não encontro em lugar algum, nem mesmo nos sites estrangeiros do iO...

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  4. Não descobri ainda. Vou perguntar na próxima revisão para ver se alguém sabe. E é capaz dos mecânicos não saberem, porque o LSD da Pajero IO/TR4 é um bujãozinho selado no diferencial, se o cara não for muito observador ele não acha aquilo diferente de uma peça de diferencial normal.

    Realmente seria barato, em termos de custo, implementar controle de tração. Mas o custo de pesquisa, testes, homologação etc é alto. Provavelmente a CPU que usam na centralina do ABS teria de ser mais rápida que a existente hoje, é preciso integrar com a central do motor (coisa que a TR4 não faz hoje) e por aí vai.

    Tanto não é um problema trivial que, de todos os carros AWD que andam por aí e alegam ter controle de tração 100% (que permite ter tração mesmo com apenas uma roda no chão), apenas o Subaru entrega 100% a promessa.

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  5. Encontrei em alguns sites a adaptação de um motor a diesel pra TR4, dá uma olhada e me fala o que você acha ou sugere a mim?

    http://carros.trovit.com.br/pajero-tr4-diesel
    http://www.adoosbrasil.com/p/pajero-motor

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  6. Segundo os anúncios, parece que usam o AP 1.6 diesel, da Volkswagen, que tem fama não muito boa:

    http://www.4x4brasil.com.br/forum/niva/34026-motor-ap-1-6-diesel-no-niva.html

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  7. É possível a adaptação do motor da L200 outdoor na TR4 2005?

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  8. Não tenho ideia... mas queria saber porque o povo gosta tanto de motor diesel :)

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  9. Boni, porque o diesel é mais barato, quando vamos abastecer ficamos encantados com a diferença de preços entre gasolina e diesel.

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  10. Sim, o diesel é mais barato, e tem a vantagem teórica de não usar faísca, então é uma coisa a menos para falhar se submerso.

    Eu particularmente não sou muito fã de diesel por diversos motivos:

    a) cheiro;

    b) motor mais caro, o que torna o veículo mais caro, é preciso andar muito para o custo adicional de capital compensar o gasto a menor com combustível;

    b.1) contar tostões no combustível sendo dono de um veículo que custa fácil mais de 100 mil é um contra-senso.

    c) seguro muito mais caro (quando aceitam fazer);

    d) ruído;

    e) "pique" do motor a gasolina é mais interessante;

    f) manutenção do motor diesel é mais complicada;

    g) problemas como combustível ruim que no motor a gasolina causam um aborrecimento ou uma limpeza de bicos, no motor a diesel podem significar ruína completa.

    h) durabilidade dos motores de alta potência/alto RPM é uma incógnita.

    Se fosse para ter motor a diesel teria de ser daqueles "estilo antigo" que duram 400.000km, como os da Toyota Bandeirante. Vejo com suspeição esta safra de motores diesel de alta potência, que prometem andar como automóvel.

    Os foruns como o 4x4 Brasil estão *cheios* de relatos de motores diesel de alta potência durando não mais que 100 mil km. Isto é ridículo se considerarmos que um motor a gasolina dura 200 mil fácil e é muito mais barato (não é uma despesa ruinosa trocar o motor inteiro de uma TR4, por exemplo).

    Enfim, estes são os motivos pelos quais torço o nariz para diesel.

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    1. Compartilho sua visão,

      O custo "na bomba" é apenas UM dos inúmeros custos do carro, e o motor a gasolina é mais econômico em diversos outros aspectos...

      Mas que o câmbio AT poderia ser melhor escalonado, ah, poderia. Costumo dizer que o AT da TR4 é um câmbio sem 2a marcha. Vai de 1a direto pra 3a...hehehe...

      Parabéns pelo blog!

      Um abraço!

      Daniel

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  11. e isso sem contar que periódicamente se faz necessário retorqueamento nos parafusos do cabeçote , por ser o torque um pouco mais elevado do que o motor a gasolina(em alguns casos)

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  12. deixa os diesel pra quem tem grana.....

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  13. Existe projeto para colocar roda livre na TR4?

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